A masturbação é, desde há muito, um tema de debate no seio da teologia cristã: é sempre um ato pecaminoso ou é, por vezes, uma expressão natural, ou mesmo saudável, da forma como Deus fez as pessoas?

A resposta a estas perguntas depende muitas vezes da interpretação das Escrituras, da perspetiva teológica e das convicções pessoais de cada um.

No artigo, exploraremos os argumentos de ambos os lados da questão, utilizando gráficos comparativos e resumos e explicações concisas.

Ganhará conhecimento ao examinar a base bíblica, os argumentos teológicos e os conselhos pastorais oferecidos por aqueles que consideram a masturbação pecaminosa e por aqueles que não a consideram.

O que é que cada visão diz sobre a pornografia? Ver abaixo

Visões contrastantes da masturbação na teologia cristã

É importante notar que ambos os pontos de vista sobre a masturbação concordam quando se trata de rejeitar o uso da pornografia. Ambos vêem a pornografia como exploradora e degradante, e o seu uso é considerado incompatível com os ensinamentos cristãos sobre o amor, o respeito e a sacralidade dos seres humanos.

A masturbação é pecaminosa A masturbação não é pecaminosa
Base bíblica Muitas vezes argumentam que a masturbação é pecaminosa com base em passagens que condenam a luxúria (por exemplo, Mateus 5:28) e a imoralidade sexual (por exemplo, 1 Coríntios 6:18). Podem também citar a história de Onan (mais abaixo). Muitas vezes, argumentam que a Bíblia não menciona nem condena explicitamente a masturbação e que as passagens citadas pela outra parte são retiradas do contexto ou não abordam diretamente a questão.
Argumentos teológicos Muitos argumentam que a masturbação é intrinsecamente egoísta e não está de acordo com o amor que se dá a si próprio. Outros afirmam que pode levar à luxúria, ao uso de pornografia ou a outros comportamentos pecaminosos. Muitas vezes argumenta-se que a masturbação pode ser uma expressão natural e saudável da sexualidade, especialmente quando não envolve luxúria ou pornografia. Outros defendem que pode ser uma forma de explorar o próprio corpo e praticar o auto-controlo sexual.
Tradição da Igreja A maioria das tradições cristãs tem ensinado historicamente que a masturbação é pecaminosa, sendo este ponto de vista particularmente comum nas denominações conservadoras ou tradicionais. Algumas tradições e teólogos têm vindo a aceitar melhor a masturbação, sobretudo nas últimas décadas, sendo este ponto de vista mais comum nas denominações liberais ou progressistas.
Aconselhamento pastoral Aconselha frequentemente as pessoas a rezarem para terem força para resistir à tentação e a procurarem responsabilização. Aconselha frequentemente as pessoas a não se tornarem compulsivas, a evitarem a pornografia e a terem conversas honestas sobre a sexualidade.

Ambas as perspectivas sobre a masturbação no âmbito da teologia cristã concordam que a luxúria é pecaminosa. A luxúria, caracterizada por um desejo ou ânsia sexual intenso, é vista como um desvio do ideal de amor e auto-controlo ensinado no Cristianismo.

Como é que cada perspetiva encara a história de Onan? Ver abaixo

Passagem bíblica controversa sobre a masturbação

A opinião de que a masturbação é pecaminosa no âmbito da teologia cristã está enraizada em várias interpretações da Bíblia e nos ensinamentos dos líderes da igreja ao longo da história.

A história de Onan condena a masturbação?

Uma das passagens mais frequentemente citadas é a história de Onan em Génesis 38:9-10, onde ele "derramou a sua semente na terra" para evitar ter um filho para a mulher do seu irmão falecido. Embora a passagem seja principalmente sobre a desobediência de Onan, alguns interpretaram-na como uma condenação da masturbação.

Condena Não condena
Interpretação bíblica Interpreta a história de Onan como uma condenação direta da masturbação, associando o seu ato de "derramar a sua semente" ao ato de masturbação. Entende a história de Onan como uma condenação da sua recusa em cumprir o seu dever de dar um herdeiro ao seu irmão falecido, e não como uma declaração sobre a masturbação.
Contexto Centra-se no ato de Onan ter derramado a sua semente na terra como a principal razão do desagrado de Deus. Salienta o contexto cultural e histórico do casamento levirato, em que um homem era obrigado a casar com a viúva do seu irmão falecido para ter um herdeiro.
Implicações morais Considera o castigo de Onan como um aviso contra a masturbação e como uma lição moral sobre a santidade do ato sexual. Vê o castigo de Onan como resultado do seu egoísmo e desobediência à ordem de Deus, e não como uma declaração sobre a moralidade da masturbação.
Aplicação moderna Aplica a história de Onan como base bíblica para o ensino contra a masturbação nos ensinamentos cristãos contemporâneos. Considera que a história de Onan não está relacionada com o debate moderno sobre a masturbação, centrando-se antes nos temas mais amplos da obediência e do altruísmo.

O ensinamento de Jesus sobre a luxúria condena a masturbação?

Para além disso, as palavras de Jesus em Mateus 5:28, onde equipara os pensamentos luxuriosos ao adultério, têm sido usadas para argumentar contra a masturbação, uma vez que esta envolve frequentemente fantasias sexuais.

O versículo diz: "Mas eu digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher com intenção lasciva, já cometeu adultério com ela no seu coração." (ESV)

Ele condena-o Ele não o condena
Interpretação bíblica Interpreta o ensinamento de Jesus sobre a luxúria como uma condenação direta da masturbação, associando os pensamentos luxuriosos ao ato de masturbação. Compreende o ensinamento de Jesus sobre a luxúria como uma condenação dos pensamentos e intenções luxuriosos, e não como uma declaração sobre a masturbação.
Contexto Centra-se na ligação entre pensamentos luxuriosos e actos sexuais, incluindo a masturbação, como comportamento pecaminoso. Enfatiza o contexto mais alargado do Sermão da Montanha, onde Jesus aborda várias questões morais, incluindo a ira, o adultério e o divórcio.
Implicações morais Vê o ensinamento de Jesus sobre a luxúria como um aviso contra a masturbação e como uma lição moral sobre a santidade da pureza sexual. Vê o ensinamento de Jesus sobre a luxúria como um apelo para guardar o coração e a mente contra os desejos pecaminosos, e não como uma declaração sobre a moralidade da masturbação.
Aplicação moderna Aplica o ensino de Jesus sobre a luxúria como base bíblica para o ensino contra a masturbação nos ensinamentos cristãos contemporâneos. Considera o ensinamento de Jesus sobre a luxúria como um apelo ao cultivo da pureza de pensamento e intenção, e não como uma declaração direta sobre a prática da masturbação.

Líderes da Igreja, como Agostinho e Tomás de Aquino, solidificaram ainda mais a ideia de que a masturbação é pecaminosa. Acreditavam que a atividade sexual só deveria ocorrer dentro dos limites do casamento e apenas para procriação.

Professores modernos como John Stott e C.S. Lewis questionaram se a masturbação era sempre pecaminosa.

Quais são as implicações práticas de cada ponto de vista? Ver abaixo

O apóstolo Paulo condena a masturbação?

O ensinamento de Paulo em 1 Coríntios 6:12 diz: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas são benéficas; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nada." As interpretações desta passagem variam muito entre teólogos e académicos.

Ele condena-o Ele não o condena
Interpretação bíblica Interpreta o ensinamento de Paulo sobre a imoralidade sexual como uma condenação da masturbação, associando-a à impureza e à injustiça. Entende o ensinamento de Paulo como um apelo ao auto-controlo e à moderação em todas as coisas, e não especificamente como uma declaração sobre a masturbação.
Contexto Centra-se no contexto mais alargado dos ensinamentos de Paulo sobre a imoralidade sexual em 1 Coríntios, incluindo o apelo a fugir da imoralidade sexual e a honrar Deus com o seu corpo. Sublinha o contexto mais amplo dos ensinamentos de Paulo sobre a liberdade cristã e o princípio de que "todas as coisas são lícitas, mas nem todas são benéficas".
Implicações morais Vê o ensinamento de Paulo como um aviso contra a masturbação e como uma lição moral sobre a importância da pureza sexual e do auto-controlo. Vê os ensinamentos de Paulo como um apelo ao exercício responsável da liberdade cristã e a evitar comportamentos que possam conduzir ao pecado ou prejudicar os outros.
Aplicação moderna Aplica o ensino de Paulo como base bíblica para o ensino contra a masturbação nos ensinamentos cristãos contemporâneos. Considera o ensinamento de Paulo como um apelo a fazer escolhas sábias e responsáveis em todas as áreas da vida, e não como uma declaração direta sobre a prática da masturbação.

Implicações práticas

As implicações práticas dos diferentes pontos de vista sobre a masturbação na teologia cristã são significativas, pois podem ter impacto na compreensão que um indivíduo tem da sua própria sexualidade, da sua relação com Deus e das suas interacções com os outros.

Para aqueles que acreditam que a masturbação é pecaminosa, abster-se do ato pode ser visto como uma forma de demonstrar obediência aos mandamentos de Deus e de evitar pensamentos luxuriosos.

Esta perspetiva pode encorajar os indivíduos a procurar formas alternativas de gerir os desejos sexuais, como a oração, o jejum ou a concentração noutras actividades.

Por outro lado, aqueles que acreditam que a masturbação não é pecaminosa podem vê-la como uma forma natural e saudável de explorar o seu próprio corpo e de gerir a tensão sexual.